domingo, 7 de junho de 2009

Para quê?

Para quê ser o musgo do rochedo
Ou urze atormentada da montanha?
Se a arranca a ansiedade e o medo
E este enleio e esta angústia estranha.

E todo este feitiço e este enredo
Do nosso próprio peito?E é tamanha
E tão profunda a gente que o segredo
Da vida como um grande mar nos banha?

Pra quê ser asa quando a gente voa,
De que serve ser cântico se entoa,
Toda a canção de amor do Universo?

Para quê ser altura e ansiedade,
Se se pode gritar uma Verdade
Ao mundo vão nas sílabas de um verso?


Florbela Espanca- Pra quê? in Sonetos

Paisagem editora.
Edição: Maio de 1982

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